domingo, 29 de dezembro de 2013

Cidade grande

Eu sei que moro numa cidade grande quando são 14 horas da tarde e já sei que vou chegar atrasada ao compromisso das 16 horas. A escolha é chegar 5 ou 30 minutos mais tarde do horário combinado. 
Sendo filha de inglês e crescida no Brasil a pontualidade sempre foi uma questão dúbia: eu tento loucamente chegar na hora e tem dias que não consigo mesmo por mais que eu me esforce. 
Na Espanha, pontualidade é com 10 minutos de tolerância, depois disso é atraso. E aqui tudo funciona nos horários mais estranho para o resto do mundo. Tipo 16h é depois do almoço; é o começo da tarde, quando o resto do mundo já está pensando na “merenda”, no café da tarde. Tento me enquadrar mas tem dias que não é possível.



Na semana passada, as 14 horas, eu corri e corri para tentar não chegar atrasada na aula das 16h. Na estação de Chamartin, subi os 4 andares da plataforma a saída do metro super rápido, percorri a distância até a estação de trem como se fosse uma prova de atletismo de 200 metros com barreiras, subi as ultimas escadas com a certeza do meu atraso. Respirei fundo tentando ver onde estava meu trem quando vi uma “compi”* de aula super tranquila e sorridente. Ao me aproximei, ela me disse: “Tranquila, que chegamos”. 

Em uma mesma cidade mora a loucura e a calma. 



*compi de “compañera” = colegas de classe.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Frases da Sogra


A mãe do Paco é uma mulher do norte da Espanha, da região de Palencia. Parece que é uma região de contrates que reflete na linguagem, para ela nada é neutro. Qualquer coisa ou é muito, muito boa – excelente – ou é muito, muito ruim – malíssimo. Ela adora falar de comida, descreve detalhadamente o cardápio de vários restaurantes da vizinhança e qualifica as viagens com o grupo da terceira idade pelo que comeram. Para ela, Paco e eu fazemos uma boa viagem se paramos para comer. 

Se você quer que ela lembre se de ti, é só falar de comida, preferencialmente doce, melhor com nata, que eu descreveria como um chantili sem gosto e espumoso. Pronto, aí é só deixar rolar, ela vai fazer uma lista de vários lugares e em vários anos que a comida e as sobremesas são deliciosas. Para mim, o mais legal é que ela sempre fala assim:

“ahí nos dan de comer muy bien. Estupendo!”

E não é que é assim mesmo! Fora de casa, não somos seres ativos que pedimos, pegamos e exigimos. Fora de casa, nos dão de comer!

Outro dia ela me corrigiu quando conte que na minha família as crianças ganham pratos de doces no natal – cheios de pão de mel, after eight e marzipan. Ela me disse que os doces nos eram dados, meio como “se nos regalan dulces”. Poxa, me senti passiva na ação de ganhar presentes. 

Percebi que ela usa o passivo para várias ações: “el arroz que estamos gastando es de la marca SOS”. Fiquei imaginando o podre arroz puído, meio quebrado, como um sabonete que vai perdendo o volume no banho, quando já tivesse no final do pacote.



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Portuñol e Portunhol


Eu falo em português com o Paco. Algumas palavras e expressões são do espanhol, como os dias da semana. Desisti de falar 2af, 3af, 4af, etc.. Paco acha que 2af é “martes”, dá a maior confusão. Como bem disse uma amiga, citando Neruda:

“Prestes me invito a almozar para um dia de la semana seguiente. Entonces me sucedió una de esas catástrofes sólo atribuible al destino o a mi irresponsabilidad. Sucede que el idioma portugués, no obstante tener su sábado y domingo, no señala los demás días de la semana como lunes, martes miércoles, etc, sino como endiabladas denominaciones segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, saltando-se la primera para complemento .Yo me enredo enteramente en esas feiras, sin saber de que día se trata. (…) La quarta-feira me enteré de que Prestes me esperó la terça-feira inútilmente con la mesa puesta mientras que yo pasaba las horas en la playa de Ipanema. (…) Cada vez que me acuerdo de esta historia, me quisiera morir de vergüenza. Todo lo he podido aprender en mi vida, menos los nombres de los días de la semana en portugués.” Pablo Neruda- Confieso que he vivido


Eu imaginava que, aos poucos e com os anos, o espanhol predominasse e que o português ficaria em segundo plano. Porém acho que não será dessa forma.

Assim que comecei minha aventura deste lado do Atlântico, sabia que falaria portuñol, com sotaque do interior de São Paulo. Tive muita dificuldade em começar a usar o pronome de tratamento pessoal “Tú”. Para mim, "tú" sempre foi coisa de menino de rio, de carioca e santista. Como paulista sempre falei “cê”. Quando me forcei a falar "tu", parecia que outra pessoa falando, achava falso. Ter que renunciar ao “você”, “ocê”, “cê” falado foi duro, foi como deixar minha identidade de caipira um pouco de lado.



O que eu não podia sonhar é com o Paco introduzindo palavras de português no nosso vocabulário caseiro. Comigo, ele fala portuñol e, assim, temos uma língua própria. Fofo! Legal é ver a cara das pessoas no metro, ver as senhoras sem entender o que aquele espanholito fala com a gringa. 

Ele aprendeu português super rápido no Brasil. No final da nossa viagem de férias ele estava com um português bem bacana, com conjugações verbais aproximadas: “Eu he falado para você”. “Te falei, Paco!”. “Eu fize o almoço”. “No es yo hice comida. É eu fiz”. Eu fiquei super orgulhosa, achando lindo! 

Do verão, há duas conversas engraçadíssimas:

Ainda no carro indo para praia, eu estava de nhén-nhén, pentelhando o Paco e ele me responde em bom português: “Nem fudendo!”, com sotaque em espanhol. Eu exclamei: “putz ... não sabia que eu falava tanto isso!” É, falo, sempre que eu não quero fazer alguma coisa de forma nenhuma. Meu jeito de dizer que “não, não e não” e foi  como Paco reproduziu. Vai dizer, sou uma ótima profa?!

Dias depois, apareceu uma espinha enorme no meu rosto, tipo Everest no dia que entrar em erupção antes do apocalipse. Paco olhou bem e sorriu: “Que gosma!”, sem mais. Eu sabia que eu falava “meleca” mas “gosma” eu não lembrava não!

O Paco gosta também de reproduzir todos os “inhos” e “inhas” que eu falo. Bonitinho, né? Mas ele sempre esquece o que é soneca e cafuné. 



domingo, 4 de agosto de 2013

Ao sul e ao sol



Fizemos nossa migração anual ao sul e a praia, assim como as cegonhas. 
Estas vão até o Marrocos, nós ficamos em Múrcia.

Estamos respirando o ar úmido salgado e tratando a pele com muito iodo do Mediterrâneo.






Ao sul e ao sol

sábado, 3 de agosto de 2013

Tarado

Paco tem um amigo tarado. Inteligente, sociável e muito tarado. Para ele tudo se resolveria com sexo grupal, palavras de sua “pareja” – companheira de vida. 

Da última vez, ele insinuou que deveríamos trocar de parceiro e lançou um olhar “lascivo” para mim, mordendo os lábios. Falou somente para mim e “em tom de brincadeira”. Eu não respondi nada, fiquei em silêncio pelo outros 2 quarteirões que ele andou ao meu lado. 

Ele faz “brincadeiras em tons sexuais”. 

Ao Paco, ele diz para avisá-lo quando Fulana estará por ali porque gosta de vê-la caminhar com os peitos empinados. Paco responde que nunca percebeu como ela rebola porque está prestando atenção no que a mulher tem para falar. Também ele chamou de “escravas sexuais” mulheres que trabalham com o Paco, que olhou de volta com cara de “mano, você é louco!!??” e não estendeu o assunto porque eles estavam no ambiente de trabalho. 

Das duas vezes eu estava ao lado do Paco. Fiquei bem feliz com a atitude do meu companheiro que não deu margem as “bromas” – brincadeiras – da pessoa. Mas Paco também não peitou o cara de frente como seria a reação normal dele – quando Paco não concorda com alguma coisa todos ficam sabendo, bem rapidinho. 

Assim como eu, Paco sabe que tratar como um objeto as mulheres ao seu redor não é brincadeira, nem uma piada. É machismo ou micromachismo como estão chamando, é que eu ainda não entendi muito bem. 

Mas o cara se sente tão confortável na pele de “macho alfa” – como ele mesmo se chama – que não nenhum problema em dizer que eu estou bonita e que o verão me faz bem. Ele diz estas coisas em um tom de voz baixinho: gemendo. Faz isso quando estamos sozinhos: na cozinha da minha casa passando sua mão no meu braço enquanto eu estou entre a parede e a geladeira que abri para pegar algo de beber para ele. 

Ele não é burro: sabe que só pode falar estas coisas quando não há outras pessoas por perto, principalmente o companheiro desta mulher. Ele sabe que ele não deve tratar assim uma mulher, que ele não pode ver uma mulher como um objeto de sua satisfação sexual. Mas ele faz porque pode, porque a sociedade diz que tudo bem ele não ter respeito pela mulher, desde que honre (hipocritamente) o companheiro dela. 

Tenho verdadeiro asco da criatura – e ainda não consegui peita-lo de frente como faço quando não concordo com alguma coisa, todos sabem rapidinho. Ainda não tive coragem de contar ao Paco que o amigo dele me “elogia” – porque suas palavras não são elogios, são taras de um homem machista.

·         entre aspas estão palavras que todos usam para disfarçar o machismo.




NOVIDADES:

Uma noite de verão, enche me de coragem e despejei toda minha indignação no Paco. Falei, falei e falei ... Paco: porque você me diz isso agora? 
Eu disse que não sabia como abordar isso que não sabia como contar situações que podem ser “pequenas” mas que me incomodam muito. Paco: mas ele é inofensivo. Eu: inofensivo é o caralho! Isso é machismo e você está sendo machista falando isso. Paco ficou quieto, me abraçou tentando me consolar. Para terminar eu disse: estou te avisando que da próxima vez que o tarado falar besteira eu vou responder; não vai ser bonito e talvez seja em português. Oremos!



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Uns são de mesa, outros de balcão



Paco e eu adoramos um bar, acho que isso não é novidade para ninguém! 

À noite quase não frequentamos restaurante. Escolher um restaurante para jantar em uma sexta-feira à noite não é conosco. Vamos quando convidados. Vamos com prazer!


Nós somos de bar e de balcão – “barra” em espanhol. Na maior parte das vezes ficamos em pé ou nos acomodamos nas cadeiras altas. 

Gostamos de tomar cerveja: “caña o “tercio”. Caña seria como um chopp, é cerveja de pressão, normalmente 200 ml. O tercio vem em garrafas de 330 ml, ou 33cl como os espanhóis preferem. Também tem uma garrafa menor que seria um quinto de litro que agora é conhecida como “botellin”. Está na moda servir os 5 ou 6 “botellines” em cubos de gelo. Eu acho bacana porque fica geladinho, é um desperdício de vidro mas não de líquido. Os mais espetaculares são os “mini” que são os copos de plásticos de quase um litro, estes são de balada. cuidado 

Em ocasiões especiais, pedimos “vermut de grifo”. Eu não sei explicar, ao certo, o que é; parece com martine mas não é; é vinho e tem ervas aromáticas. No verão com uma rodela de limão e um cubo de gelo é uma delicia!




Os bares são democráticos, não importa se você é homem ou mulher, se você vem sozinho ou acompanhado, a idade que tenha, sempre cabe mais um nos balcões de Madrid.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O sol cura tudo


Minha mãe é aquelas mulheres que acreditam nos poderes curativos do sol.

Casaco de inverno vai para o sol antes e depois da estação mias fria do ano. Da primeira vez para tirar o guardado, da segunda para secar para ser guardado. 

Toalha de banho vai para o sol para matar os bichinhos que podem dar fungos nos pés. Um bom banho termina com o tato de uma toalha quentinha que foi seca ao sol. Tem até cheiro de sol.

As roupas brancas ganham mais brancura depois de um banho de luz solar. Tem que quarar. 

O espaço para secar roupas ocupava um bom pedaço da área de fora da minha casa da infância. Eu gostava de passear entre a roupa de cama úmida pendurada nos varais para sentir o frescor da evaporação.

Na minha pequena e aconchegante casa de Madrid o varal está na janela, quer dizer, pendurado para o lado de fora da janela, como em todas as outras casas da vizinhança. Eu uso bastante, especialmente no verão. Mas sou muito pudica com as roupas exibidas. Roupas intimas não! não queria que os outros vissem o que uso “underwear”, tenho vergonha.

Depois de um longo inverno, minhas calcinhas estavam implorando por um banho de luz. Elas praticamente pularam para o varal. Eu só obedeci, tentando camuflar-las com as toalhas de banho... Assim descaradamente expus minha intimidade na janela, como todos os vizinhos.



Sol cura tudo, até vergonha!




quarta-feira, 31 de julho de 2013

Alimentação natural em lata


Foto

Eu parei de beber refrigerante desde que voltei das férias no Brasil.
Achei que ia ser mais complicado porque por aqui a oferta de sumo natural feito na hora nos bares e restaurante é quase zero. Tem suco de laranja na cafeteria da universidade, custa 1,50 euros, um luxo! Toma-se no café da manhã, como um complemento. Com a comida não! Tenho uma ótima desculpa para tomar mais vinho – ô vida boa!!

Não beber, não comprar, não pedir em bar e restaurante até que é fácil. Difícil é recusar na casa dos outros, nas festas de amigos.
 Eles falam: “você não vai tomar nada??” Respondo: “tomo sim: ÁGUA!” Minha sogra sempre quer me dar “Aquarius”, sempre tenho que dizer que não gosto e que isso não é saudável como ela acredita. Li, para ela, várias vezes o rotulo dos ingredientes e friso a quantidade de sal que tem, além do já sabido de açúcar. Ela que não se dá para vencida, retruca; “foi a médica que receitou ao meu marido” – tomei cheque mate da autoridade suprema neste mundo!

E a cara de ponto de interrogação que o povo faz quando você diz que não tem refrigerante em casa. Se a visita quiser tem água e suco - passei por isso no domingo: ela acabou bebendo cerveja! 

Também parei com o "ice tea", o "nestea" que tem muito açúcar - eca!!! Para a minha perplexidade total, existe “refresco sin burbujas” que os pais dão as crianças. Fique bege desbotada quando vi pela primeira vez!!




Agora quero cortar as farinhas brancas do tipo refinadas. 

Os pães integrais vendidos nos supermercados tem farinha branca (de trigo) refinada na composição. Eu não acho o pão que quero. Como temos máquina de pão em casa, pensei que posso tentar fazer uma vez para ver se gosto de brincar de ser padeira. 

Fui à loja de produtos artesanais ao lado de casa e para minha surpresa era tudo em lata, os pães eram torrados e tem uma enorme seleção de embutidos do campo!! Acho que o mais “natural” que tinha era o ovo caipira. Não tinha nada do tipo DIY – Do It Yourself. 

Eu queria saber se tinha “farinha de amêndoas” que li que era ótima para fazer bolos e tem as boas propriedades dos óleos. Super simpática, a dona da loja me disse que não conhecia e que nem ia procurar agora porque fecha em agosto para férias. E que esta coisas assim em grãos e muito vegetarianas não eram muito comuns em Madrid!

oi??
Vou levar a moça para dar uma volta pelo bairro de Lavapies.
Como é difícil querer ter o controle do que se come!!

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Milão e Magê

Era o que tinha!!   
A carol vinha a um congresso em Grenoble que fica perto de Lyon.
Eu queria ir pra lá pra encontrá-la mas o Paco nâo queria ir pra França.
Abri o mapa e virou Milão. 
 
Ir e voltar foi mega cansativo: duas noites no aeroporto.
Milão é lindo, grande cidade, meio "pija", meio fashion.
E cara!
Mas Paco e eu conseguimos comer e beber bem sem vender os rins.
Conto tudo: AQUI no blog Milão nas mãos.
 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Duas palavras que eu implico: sorte e inveja

Sorte: minha mãe diz que eu tenho sorte porque meu companheiro cozinha para mim (é para nós mas ... deixa) e me traz café todos os dias na cama. Eu não tenho sorte, eu procurei um companheiro assim para chamar de meu!

Várias pessoas dizem que tenho sorte por morar em Madrid. É tenho, eu gosto bastante – mesmo. Mas eu gostava muito de morar em São Carlos, minha cidade natal que escolhi para voltar a morar depois peregrinar por algumas outras. Em Madrid minha família é o Paco. Pô, tenho que falar com as minhas irmãs por skype levando em conta um fuso horário de 5 horas.

A Lourdes, empregada de casa durante anos, uma vez, me disse que ela poderia morar mais próximo no centro, seria mais fácil, mas preferia ficar onde estava porque estaria perto de suas irmãs. E ali está morando, ao lado que quem ela quer e ama.

E ai, quem tem mais sorte de morar no melhor lugar do mundo?

Sorte é um dia de sol no inverno chuvoso. Sorte foi ver a Alaska na rua um dia qualquer. É ganhar na loteria porque se fosse matemático o Jorge já tinha acertado faz muito tempo.

Já a inveja é uma merda.
Esta nova moda de escrever “inveja branca” é uma porcaria maior ainda. Para piorar tem umas pessoas que falavam “que invejinha branca que você está na praia e eu no escritório”. Pô, num sabe ser feliz pelos outros!!
Tentar transformar um sentimento negativo em algo positivo colocando a palavra “branco/a” indica a profunda desigualdade racial que vivemos. A forma como falamos é como vivemos. A inveja não vai ser mais bonita, nem mais limpa, se colocarmos branco depois. A inveja branca mostra o quanto se pode ser racista ainda hoje.

Na Espanha é “envidia sana” que também é uma merda. Aqui ela é sarada e faz esporte! Eu tenho medo dela, vai que ela me quebra em pedaços em uma aula de Kickboxing do ginásio.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar, aborto livre e seguro para não morrer!

Em linhas gerais, o aborto na Espanha é/era por livre escolha da mulher, tratado pela via da saúde pública. Esse artigo de janeiro de 2012, faz um resumão: o que está/estava em vigor é a “Ley de Salud Sexual y Reproductiva de2010”.
Agora o que o ministro da Justiça quer reformar a atual lei de prazos – que permite abortar livremente até a 14 semana de gestação - para um “sistema de supuestos” em que as mulheres terão que alegar os motivos para a sua decisão. Se o motivo não está entre os critérios de despenalização é crime, ou seja, o aborto passa a ser um problema de justiça.
A nova lei se inspirará na “defesa do direito a vida” tal e como definiu a Constituição de 1985. Segundo o ministro o que se pretende é desfazer uma desigualdade que “desprotege os direitos do no nascido”, é equiparar os direitos do “no nascido” aos direitos da mulher. Para mim esse é O problemão, que é semelhante ao Estatuto no Nascituro no Brasil. 

Como por aqui a coisa também está fervendo, o que se discute agora são os critérios de despenalização que seriam dos de estupro, má formação e risco de vida para a mulher. Os mesmos de muitos países, como o Brasil. O ministro de Justiça quer impedir o aborto por má formação de feto. O que esta gerando protestos e mais protestos dos dois lados. Veja aqui o protesto do “pró-vida” comparando a que abortam a Hitler.

Eu acho que o ministro está dando uma de espertinho: ao dizer que se identifica “con que desaparezca el supuesto deaborto por malformación”, ele está mudando o centro do debate. A questão é que a reforma que ele pretende quer cercear os direitos da mulher. Outra vez: como no Brasil. Tudo isso deixa claro que qualquer retrocesso é possível e que a vigilância pela garantia de direitos não pode nunca baixar a guarda.
Torço muito para que a Espanha e o Brasil, um dia e para sempre, sejam países onde o corpo da mulher seja dela de verdade e de direito! 

Por fim, deixo a campanha do Nosotrasdecidimosque comparto totalmente:
"La Mujer decide, la sociedad respeta, el Estado garantiza, las Iglesias no intervienen".









quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Nevou em Madrid

Hoje está caindo uma "aguanieve" que só serve para deixar o chão perigoso de escorregadio.


Ontem nevou em toda Madrid quase boa parte da manhã.
Eu fiquei super contente quando vi a neve caindo da janela do meu quarto.
Peguei minha caneca de café e sentei em frente a janela para contemplar o espetáculo. sorrindo de orelha a orelha. Boba, boba!!


Uns minuto depois ligue para a Mary, minha amiga nigeriana, que imaginei que assim como eu nunca tinha visto neve assim tão de perto.

Mary, você viu que está nevando lá fora??
Não, está?? 
Sim. Vá até a sua janela e veja.
OMG, está nevando de verdade! Que lindo! Que lindo!! É neve, é neve de verdade!! Vou lá fora para tirar umas fotos e mandar ao meu irmão. Ele não vai acreditar! Muito obrigada por me ligar para avisar. Obrigada mesmo!



Achei alguém que ficou mais emocionada que eu!



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

14F: One billion rising Madrid

ONE BILLION RISING MADRID
Batucada por una vida sin violencia sexual

Jueves 14 de febrero de 2013, 20 horas
Plaza de Agustín Lara, Lavapiés, Madrid



"One billion rising" é a inciativa para trazer as ruas a temática da Violência contras as Mulheres e Meninas. 
É um convite para dançar para erradicar a Violência Domestica em todo o mundo, AGORA! 

A data de 14 de fevereiro fio uma escolha  proposital, já que se comemora o Dia de São Valentim ou o dia dos namorados no boa parte da Europa e EEUU. Era para lembrar que muitas relações amorosas entre mulher e homem são relações de desigualdade e de agressões. 
No ano passado na Espanha 46  mulheres foram assassinadas por seus companheiros. Este ano já são 9 mulheres. Oficialmente, porque há subnotificação, como em todas as estatísticas de órgãos oficiais.
O que importa é que é um número grande de mulheres que são assassinadas de forma sistemática ano após ano. Podemos pensar em uma mulher morta nas mãos de seu companheiro por semana ao ano!

Plaza de Augustin Lara, Lavapiés.


Por isso que no dia 14 de fevereiro eu estive lá na praça de Lavapiés em Madrid.
Foi lindo! A praça estava cheia. A batucada foi emocionante, como a plataforma Fenimicio .net resume. 

A batucaca era quase que exclusivamente feminina. Mulherada mandou bem e seus companheiros assistiam com os filhos. Essa foi minha percepção. Vi muitos homens responsáveis pelo cuidado das crianças nas bordas da praça enquanto as mulheres ocupavam o centro e o protagonismo da noite. 

Eu gostei de ver um protesto com uma temática tão forte tão cheio de vida. 

Apesar de todos os esforços das diferentes plataformas feministas, há sempre mais um muro de machismo a derrubar, como hoje que o ator e deputado por UPyD "Toni Cantó se ha levantado esta mañana con ganas de cuestionar la violencia de género". Ele acreditava que os números da violência doméstica favoreciam as mulheres (hã!) porque estas mentem e que estava denunciando o que podia ser uma violência contra os homens. Depois da pressão das redes sociais, o deputado se desculpou, aqui. Quer dizer até então ele não achava que estava dizendo nada de mais até ser duramente criticado.
O caso #ToniCantó é só um pequeno e pontual exemplo de que a  Violência contra Mulheres e Meninas precisa ter levada a sério.

Faça um favor a si mesmx e a todxs, torne-se Feminista!!



Cuenca

Cuenca está entre dois rios: o rio Júcar ao norte e ao afluente do rio Huécar ao sul. Para quem sai da secura de Madrid  (170 kms de distancia) é uma abundancia de ar úmido respirável. Pra quem tem renite, sinusite e outras istes, como eu, é um benção dos deuses!  Mesmo que seja no final de semana (22- 24 de fev.)  mais frio do inverno em toda Europa. Estava frio, muito, muito frio! Sensação térmica de - 10 graus a noite. Casacão, meião, calça térmica, luvas, cachecol na mala e tudo resolvido.

Do Wiki


A parte antiga está no alto da montanha,  por volta de 950 metros de altitude . É ali que estão as "casa colgadas", que são casa esculpidas na montanha com os balções que parecem pendurados no ar. As mais famosas foram construídas no século XIV.

O seu conjunto histórico e arquitetônico, bem conversado, foi declarada Patrimônio de la Humanidade pela Unesco. Caminhar pelas ruas estreitas e escuras, senti me em Toledo, talvez, porque esta é a  referência em cidades medievais espanholas. Acho dá para comparar: os dois "cascos antiguos" são te levam a imaginar a vida em outros tempos.

Eu fiquei impressionado com a concentração de museus no centro histórico, Cuenca tem 10 museus, segundo nosso amigo wiki! Os mais destacados são os de Ciencia e o Museu de Cuenca, que eu queria ter entrado. Mas nosso final de semana era de andanças.

Começamos subindo pelo lado do afluente do rio Huecar até o mirador de San Pablo para ter o melhor angulo da casa colgada mais antiga. Cada passo mais para cima, as casas se revelavam.

Lá embaixo.

No meio do caminho.

Casas e um dos arco da ponte San Pablo.

Para chegar a elas é preciso atravessar a ponte de San Pablo que liga os dois montes. Com chuva fina e vento constante, a travessia foi minha verdadeira aventura da viagem. Uma ponte de ferro e madeira, estreita por ser para pedestres, reconstruída em 1902 dá vertigem que vale a pena. 

Ponte.

Atravessar 

"A" casa.

Pela chuva e pela hora que chegamos perto da casa (depois do horário de almoço espanhol) estivemos ali só nós dois, um privilégio! E assim foi durante quase todo o dia. Cuenca só para nós!  
A continuação e inesperadamente de uma das ruelas chegamos a Plaza Mayor e na Catedral.

Catedral.
Catedral e Plaza Mayor.

Plaza Mayor e o reflexo da chuva.

Essa foto acima é a minha favorita do dia: prédios coloridos, porta antiga, o reflexo da chuva e ninguém na praça. Foi um super privilégio poder ter explorado a cidade, pudemos contemplar cada detalhe 
com a tranquilidade da chuva.
Chegamos até as ruínas do castelo onde tem um vista maravilhosa de todo o vale, depois descemos rapidíssimo pelo lado do rio Júcar até a rua dos barzinhos (Calle San Francisco), afinal a chuva molha - dã!  

Molhada e cansada.



Sábado de sol e neve - Cuenca

Tudo que era chuva em Cuenca se transformou em neve nos sues arredores mais altos. E foi totalmente nevada que encontramos a Cuidad Encantada, uns 30 kms da cidade de Cuenca.
Cidade Encantada é um parque natural de incríveis formações rochosas, que está a 1.500 metros de altitude. 
Como qualquer um que cresceu sem ver neve, eu estava mais feliz que "pinto no lixo".







sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Férias para ver pessoas

Nossas férias de natal e ano novo foram no Brasil.
Fiquei um mês, eu vim 10 dias antes do Paco.
Fui recebida com um jantar caseiro da mamãe.
Não tem coisa melhor do que comida de mãe!!

É Natal na casa da mamãe.



Nos falamos com frequência pelo skype e por todos os outros meios eletrônicos-tecnológicos, mas fazia mais de 08 meses que não as abraçava.
Ao sentir o cheiro de casa de mãe, ficar descalça, comer gostoso e rodeada pelas minha irmãs e mãe, não parecia que fazia mais de um ano que não estava em São Paulo. Tinha a sensação que eu tinha ficado algumas horas longe de casa e que tinha visto minha família ontem.
No dia seguinte eu fui paparicada pelas minhas irmãs, com direito a super mesa de café da manhã!! Coisa boa!!


Amanhecer entre aranha-céus.


Dia 13 de dezembro segui pra São Carlos para começar a maratona de ver amigos, tomar cerveja e colocar a conversa em dia. Baladinhas e churrasquinhos com as amigas!!
Dia 20 estava de novo no aeroporto para receber o Paco, que foi levado imediatamente a pizzaria. Ele se encantou com o pão de calabresa.
No outro dia bem cedo Paco e eu estávamos pronto para explorar o centrão da cidade de São Paulo.



A tarde viajamos para a praia.
Foram 12 dias de sol, sombra e água fresca. Foram dias de sol intenso e escaldante. Tiveram os dias de chuva com vento, aquela que dá vontade de ficar jogando cartas.
Fizemos jantares maravilhosos de natal e ano novo.
Vesti me de branco e estouramos espumante na praia.
Muitos fogos de artifício e aquela sensação de festa de verdade!!




Nossa última semana de férias passamos em São Carlos com mais uma maratona de encontro com os amigos, cervejas e conversas e muitas risadas.
Em um mês passamos por três cidades, nos deslocamos super pouco e Paco não conheceu nenhum lugares novo. Foram férias para ver e rever pessoas queridas que eu queria que estivessem sempre perto mas que ficam do outro lado do oceano Atlântico.